Mas eu sei que você vem… Semana passada você prometeu que vinha. Eu sei, eu sei. Você prometeu tanta coisa sem fundamento que não foi capaz de cumprir… Mas um rabisco esquecido no canto da mesa, escrito com a sua grafia, que diz: “Não esquece que eu sempre volto pros seus braços, pequena.” me faz continuar aqui, encarando meus dedos entrelaçados e trêmulos que são apenas parte de meu nervosismo. Faz tanto tempo que não te encontro, que não te sinto perto de mim. Faz tanto tempo que a sua voz não me atinge tão de perto, e me faz perder a noção das coisas. Faz tanto tempo que eu não me considero completa, e a ideia de que a qualquer momento você pode entrar por aquela porta e voltar para mim, mesmo que apenas no sentido figurado da palavra, me faz sentir como se as coisas pudessem se resolver. Eu sei que elas não podem. Eu sei que elas não vão.
O relógio na parede já nem atraí mais a minha atenção. Tento manter meus olhos longe das nossas frases esquecidas sobre a mesa, e ignorar as mensagens que não param de surgir em meu celular. Elas dizem que você não vem… Me pedem, me imploram para sair daqui e voltar para casa, para deixar de esperar. Elas perguntam por que eu ainda acredito em você, se você continua fugindo de mim e indo para longe, para onde meus braços não conseguem te alcançar. E o seu atraso faz com que todas aquelas perguntas inconvenientes surjam em minha mente mais uma vez. Por que eu continuo aqui? Por que eu ainda te espero? Será que você vem? Será que você, pelo menos dessa vez, fica um pouco mais? Eu não me importo… Eu só espero que você chegue logo e sente-se na minha frente, porque eu preciso te contar sobre todos os dias que passei longe de você. Eu preciso fazer você entender que meus dias são todos repetitivos sem você, e preciso descarregar todas essas palavras que escondi durante meses. Talvez você entenda que minha vida fica tão melhor quando você faz parte dela, e sinta até um pouquinho de pena de mim e então peça pra ficar comigo, pra sempre. Novamente. Talvez você permaneça em silêncio, e se despeça quando amanhecer… É o que você sempre faz, eu sei. Mas eu preciso tanto que você venha só pra eu poder te falar que eu senti a sua falta.
O ressoar do sino ecoa pelo ambiente pela centésima vez na noite, e eu desgrudo meus olhos de meus dedos para mais uma vez encarar a porta. Encarar você.
(Você sabia que toda vez que eu te vejo, meu coração acelera?)
Por que seria diferente agora? O seu olhar tão magnético atraí o meu com tamanha facilidade, e toda a atmosfera ao redor de mim já parece perder todo o seu sentido. Você se mantém imóvel, distante… Eu reviro meu interior em busca daquela menina que outrora já teria saltado da cadeira e corrido até os seus braços, para te abraçar como se estivesse segurando a coisa mais valiosa do mundo ― e talvez estivesse. Mas aquela garota agitada com uma exagerada e desagradável falta de controle, assim como aquele garoto que ao me avistar não conseguia controlar os sorrisos involuntários que teimavam em surgir, desapareceu. Essa garota nova, tão perdida e bagunçada, apenas permanece sentada, quieta… Tentando segurar a vontade de deixar o nó na garganta se desfazer. Tentando segurar a vontade de implorar que você entenda e aceite esse meu amor tão desgastado, mas tão teu.
(Você sabia que toda vez que eu te vejo, meu coração acelera?)
Por que seria diferente agora? O seu olhar tão magnético atraí o meu com tamanha facilidade, e toda a atmosfera ao redor de mim já parece perder todo o seu sentido. Você se mantém imóvel, distante… Eu reviro meu interior em busca daquela menina que outrora já teria saltado da cadeira e corrido até os seus braços, para te abraçar como se estivesse segurando a coisa mais valiosa do mundo ― e talvez estivesse. Mas aquela garota agitada com uma exagerada e desagradável falta de controle, assim como aquele garoto que ao me avistar não conseguia controlar os sorrisos involuntários que teimavam em surgir, desapareceu. Essa garota nova, tão perdida e bagunçada, apenas permanece sentada, quieta… Tentando segurar a vontade de deixar o nó na garganta se desfazer. Tentando segurar a vontade de implorar que você entenda e aceite esse meu amor tão desgastado, mas tão teu.
O som dos seus passos é o único que se destaca em seus ouvidos, e logo você está apenas a centímetros, puxando a cadeira e sentando-se na minha frente, sem romper com o silêncio presente e já tão conhecido nosso. Eu quero esticar a mão e segurar na sua, só pra saber se assim como eu, você também está tremendo. Eu quero aproximar meu rosto do seu pra ver se é apenas a minha respiração que desistiu de se manter sobre controle. Você sabe, eu sempre fui descontrolada demais, e você de menos. Eu peço mentalmente para que você me envie um sinal de que não sou apenas eu que estou sentindo o mundo ao meu redor desaparecer. Você então desvia o olhar do meu, e encara a mesa… E você então sorri. O meu sorriso.
― Achei que já tivessem apagado isso daqui ― Eu achei que sua voz já não fosse mais o meu som favorito. Eu me enganei.
― Eles tentaram, mas… uma pessoa acabou impedindo.
― Você e seu masoquismo sem limites.
― Você e seu orgulho idiota.
― Eu estou aqui, não estou? ― Você sorri novamente, aquele sorriso perdido e sem vida que eu vi quando você se foi. Eu te machuco, eu sei. A minha presença, a minha voz, essa distância toda que por culpa nossa, nos afastou de nós mesmos… Eu sei que te machuco, que destruí com grande parte da sua felicidade, com grande parte dos seus motivos para ser feliz. Eu sei que te fiz deixar de acreditar… Mas eu também deixei. E você, você também me dói tanto. A sua voz, o seu olhar, a sua presença que mesmo tão de perto se mostra tão distante. Você mudou a minha vida pra melhor, mas então você saiu dela, e como é que eu reaprendo a viver sem você?
(E todas as palavras que eu deveria estar falando para você… Eu apenas estou repetindo-as dentro de minha cabeça. O meu silêncio é tudo que você é capaz de ouvir. Me desculpa.)
― Lembra quando te liguei mês passado, de madrugada?
― Você sabe que lembro…
― Aquilo devia ter sido um adeus ― E parte de mim ainda é insana o bastante por saber que foi um adeus… um adeus não concretizado e esquecido. Assim como todos os outros.
― Eu acho que eu e você… ― Suas próprias palavras parecem te atingir.
― Você acha que nós… ― Você sorri, relaxando por um segundo e deixando evidente que não sou a única que acha que uma palavra soa melhor do que duas.
― Não servimos para isso. Não servimos para dizer adeus.
(Você acha que nós dois não servimos para ficar juntos… nem para dizer adeus. Então, por favor, o que nós dois devíamos fazer?)
― Você continua se contradizendo, amor ― Minha mão involuntariamente avança sobre a mesa em busca da sua, que recua ― E fugindo de mim.
― Você continua se contradizendo, amor ― Minha mão involuntariamente avança sobre a mesa em busca da sua, que recua ― E fugindo de mim.
― “Do que você tem medo, anjo?” ― Você lê um de nossos bilhetes, me interrogando com o olhar e apoiando o rosto em uma mão.
(Eu tenho medo de que você esteja errado, e de que eu e você sirvamos para dizer adeus. Eu tenho medo de ver você indo embora pela manhã, mesmo sabendo que é exatamente isso que irá acontecer. Eu tenho medo de que essa sua dor não te deixe mais se aproximar de mim, e de que os seus caminhos terminem de se afastar dos meus. Eu tenho medo de que algum dia você perceba que não sou mais para você o que você continua sendo para mim. Eu tenho medo de ver você desaparecer, e não conseguir te encontrar. Eu tenho medo de me cansar de procurar por você. Tenho medo de desistir.)
― Medo de me perder de você ― Minha voz enfraquecida se perde no final da frase, e você, sem perceber, suspira ― E você?
― De me encontrar em você.
― Isso não faz sentido.
― E quando é que algo que envolvesse algo entre nós dois fez sentido? ― Você retruca decepcionado.
― Quando eu disse que te amava ― Digo sem pensar, vendo seu olhar mais uma vez se prender ao meu ― Quando eu digo que te amo… Isso faz sentido.
― Você sabe que não faz sentido continuar me amando, anjo.
― Assim como você sabe que não faz sentido ter medo de se encontrar dentro de mim.
(Silêncio.)
― Faz… Faz por que então vamos voltar à estaca zero e todo ― Você se perde nas palavras ― E todo os esforço que fizemos para nos manter… Vivos e… Afastados… Você sabe, todo o esforço irá desaparecer.
― O meu esforço não está funcionando.
― Mas…
― Shhh…
O silêncio entre nós dois retorna. Sinto seu joelho encostar-se ao meu de baixo da mesa, e vejo você entrelaçar seus dedos, apertando-os com forças antes de levar as mãos até os cabelos, arrumando-os para trás. Seu corpo, assim como o meu, desliza para frente da cadeira e nossas pernas de encaixam lado a lado, cúmplices… Assim como o seu olhar que torna a repousar sobre o meu.
― “Quando você estiver precisando de alguém, você sabe onde me encontrar.”
― “Sei, claro. No espaço vazio da minha cama.” ― Você conclui e deixa um riso baixo escapar, deslizando os dedos sobre o rabisco com a minha caligrafia torta.
― Eu podia ficar ouvindo o som da sua risada o tempo inteiro.
― Você continua mentindo.
― Você continua teimoso.
Você finalmente aquieta suas mãos sobre a mesa, próximas das minhas. Eu quase posso sentir os meus músculos formigarem e implorarem pelos teus.
― Lembra quando você me ligou duas semanas atrás?
― E você me mandou desligar? ― Você desvia o olhar, retorcendo os lábios e respirando fundo antes de tornar a falar.
― Eu só não podia escutar a sua voz ― Seus dedos, devagar, deslizam para mais perto dos meus ― Eu queria te falar tanta coisa, mas eu não posso ― Corro meus olhos pela mesa, em busca de alguma lembrança que se encaixe no momento e que te faça sorrir mais uma vez.
― “Vamos nos declarar?” ― Eu quase posso voltar no tempo e ouvir a sua voz agitada e cheia de entusiasmo me propondo isso.
― Se me lembro bem, mandei você começar ― Você se faz de desentendido.
― Se me lembro bem, eu comecei apenas porque você estava fazendo chantagem emocional ― Você balança a cabeça negativamente, esperando que eu comece ― Eu sinto sua falta.
Minha mão desliza e encosta na sua, e todas as sensações que um simples toque seu me causam parecem voltar como se nunca tivessem deixado de estar presente. Você tenta se afastar novamente, mas logo seus dedos tão ou mais trêmulos que os meus cedem, e se deixam entrelaçar. Eu sinto o calor do seu corpo fluir para o meu, e me sinto culpada por ter esquecido que os espaços entre os nossos dedos são uma espécie de encaixe perfeito. Relaxo meu aperto sobre sua mão, te dando total liberdade para se afastar.
― Talvez eu e você não devamos fazer isso.
― Eu preciso falar, e sei que você quer escutar.
― O que te faz pensar isso? ― Você desvia tentando fugir, tentando fazer com que eu continue longe o bastante de tudo aquilo que você precisa, mas não sabe como dizer. De tudo aquilo que você insiste em esconder de mim ― O que te faz pensar que eu ainda me importo?
― A sua mão continua entrelaçada a minha.
Você desvia rapidamente o olhar para nossas mãos entrelaçadas sobre a mesa, e parece travar uma batalha entre o certo e o errado, até que finalmente intensifica o aperto sobre a minha mão, mantendo-as unidas e fazendo meu coração, tão fraco e tão inseguro, ganhar vida mais uma vez.
― Eu sinto sua falta também ― E eu, que venho sonhando com essa frase saindo da sua boca há tanto tempo, me vejo sem saber o que dizer ― Eu sei que acabou, e você sabe disso também… Mas você continua ocupando espaço demais dentro de mim, e você continua sendo o meu melhor ideal de futuro, que deu completamente errado e arruinou com os meus dias. E eu só não entendo porque você ainda insiste tanto em nós dois. Porque você ainda arruma lacunas no seu tempo para me ligar de madruga, só pra deixar claro que eu sou um completo infeliz que ainda se deixa sorrir quando recebe uma ligação sua ― Você aperta meus dedos, inclinando seu corpo para frente e mantendo seus olhos fixos aos meus ― Você não entende que você continua sendo boa demais para mim e para qualquer outro?
― Você não entende que eu não quero ser boa demais? Que eu quero apenas ser o suficiente para você?
― Isso precisa acabar ― Sua voz devastada se mistura com suspiros meus. Sinto sua mão se desprender da minha, mas a seguro com força, implorando para que você não se afaste ― Você precisa me tirar da sua vida, e eu preciso te tirar da minha…
― Você precisa parar com essa ideia idiota de achar que somos melhores separados.
― “Juntos ou separados, dói de qualquer jeito.”
― Eu passei quase três meses me contentando com os fantasmas do nosso passado e com as coisas que você deixou para trás antes de ir embora. Eu passei três meses tentando seguir em frente e convencer minha mente e meu coração de que eu estava melhor sem você… E se eu te dissesse que me convenci realmente disso, você saberia que estou mentindo. Você saberia que estou mentindo porque tudo em mim deixa transparecer que passar cinco minutos ao seu lado, segurando a sua mão, faz com que toda a dor que eu senti nesses três meses sem a sua presença desapareçam por completo.
Você se afasta e se levanta, hesitando antes de seguir em direção a porta, me deixando para trás. Eu continuo me perguntando o que me faz acreditar que um dia você me diga tudo que ficou trancado dentro de você durante todo esse tempo. Eu continuo me perguntando porque eu sempre espero o melhor de você. Porque eu sempre espero que você venha, mas venha para ficar. De uma vez por toda. Comigo. Pra sempre.
― Por que você continua fugindo? ― Pergunto alto o bastante para que você possa me ouvir, e seus passos cessam ― Por que você não encara que estamos presos na mesma história, nos mesmos erros, e por que não lida com isso? Por que continua achando que ir embora é a melhor saída? ― Minha voz alta e trêmula atraí olhares que logo se dispersam.
Você finalmente desiste e volta, depressa, parando ao lado de minha cadeira e segurando meu rosto entre suas mãos. Apoiando-a sua testa a minha, você suspira contra meu rosto, e seu hálito fresco ainda cheira a hortelã.
― Por que eu te amo e não sei o que fazer com isso ― Sua voz baixa e quase inaudível se propaga dentro de mim ― Por que ficar perto de você faz com que tudo seja pior do que já é. Por que eu e você não conseguimos fazer isso funcionar. Me desculpa.
(I’m sorry… I’m sorry I let you down.)
― Eu sempre vou acreditar em nós dois ― Antes que você se afaste, levo seus lábios até os teus. Eu poderia viver cem vidas, amar mil vezes, sentir todas as sensações existentes no universo, desde as mais desagradáveis até as mais reconfortantes, e ainda assim nada se compararia as pequenas explosões que propagam em meu interior quando eu sinto que você, mesmo que por apenas uma fração de segundos, volta a ser apenas meu.
Me afasto de você, mesmo que contra minha vontade, e você faz o mesmo, cambaleando em direção a sua cadeira e sentando-se nesta, antes de pedir uma caneta ao garçom que passa ao nosso lado. Seus olhos percorrem a mesa e encontram um espaço vazio, onde sua grafia logo começa a surgir.
“Eu queria poder voltar no tempo… Uns 13 meses atrás.”
Você abandona a caneta sobre a mesa, esperando por alguma reação minha. Seguro a caneta e logo abaixo da sua anotação, concluo.
“Eu queria poder passar mais uns 13 meses com você.”
― Eu te amo.
― Sempre ― Você sussurra, enquanto eu torno a escrever.
“Então, fica comigo pra sempre?”
Entrego a caneta a você, que mais uma vez, segura em minha mão e repete: Eu te amo.
Você então começa a escrever, respondendo.